Tuesday, November 13, 2007


projeto final de performance 2007
AS VITIMAS DO PROFESSOR SUKOLOV NO CARNAVAL MALDITO DA BESTA
dias 13, 14 e 15 de dezembro (qui, sex, sáb)
sempre às 20 h

Tuca Arena - Entrada pela Rua Bartira







UM CIRCO DE AÇO, FRIO E FÉL
esse post é retirado do Blog Performance Lab http://www.performance-lab.blogspot.com/, editado por uma performer amiga do RJ, Viviane Cáfaro


'An Oak Tree', encenado no Espaço Oi Futuro , é um espetáculo com tom de pesquisa laboratorial. Uma complexa construção dramatúrgica que extrai parte de sua força dramática de conflitos humanos reais, em relações de poder que se estabelecem a partir de jogos narrativos compostos por camadas intercaladas de realidade e ficção, transitando entre o reality show, a performance art , e um estilo peculiar de 'contação de histórias', a lá David Linch.

O palco é disposto como sala de conferências, elementos expostos como um laptop, aparelhos de áudio, uma fileira de cadeiras pretas, projeções dos textos traduzidos ao fundo, plateia semi-iluminada. Tim Crouch se apresenta ao microfone, anunciando a proposta de jogo que em breve se tornará o norte do espetáculo: um ator local convidado, com quem teve seu primeiro encontro a uma hora atrás e que muito pouco conhece sobre o trabalho, dividirá a cena com ele, initerruptamente, ao longo dos próximos sessenta minutos. O ator sobe ao palco e se apresenta, exposto em sua condição de cobaia de uma situação cênica explicitamente laboratorial.

Crouch muda de postura e, apresentando-se agora como personagem, 'o hipnotisador', passa a agir como entretainer de programa de auditório, solicitando participações para um número de hipnose coletiva. 'Hopefully nobody will volunteer' é a frase que pontua o convite; em meio as instruções sobre o como interagir com o seu número, nota-se que manifesatações de vontade própria não são bem vindas aqui, onde toda a margem para o imprevisto é manipulada, e a proposta de jogo com o acaso, que se poderia esperar num primeiro momento, passa a adquirir significações obscuras, contornos resignificados.



Personagens e pedaços de história se sucedem através da linha narrativa fragmentada: um acidente de carro, a morte de uma filha, uma esposa desesperada, um hipnotista incapaz de estabelecer relações com pessoas no mundo real. A temporalidade é difusa e as ações são prenúncios de uma história que não está em curso, mas que irá acontecer 'no ano que vêm'. A lógica dos acontecimentos perde a importancia frente ao desenvolvimento de sua tecitura peculiar, das camadas de realidade paralelas que o diretor estabelece, entrecruza, descarta e retoma, transitando entre esboços de representação teatral e de conflitos humanos na esfera do real.


As situações se materializam em cena a partir de comandos initerruptos dirigidos ao ator, por meio da leitura de roteiros escritos, pelos fones de ouvido, pelas falas muito próximas a seu rosto, em instruções minuciosas que condicionam cada gesto, fala ou marcação de movimento. Através da exploração continuada de sua vulnerabilidade humana perante o desconhecido da cena, acompanhamos uma experiência plena de reality-show, onde o 'número de hipnose' anunciado antes teatralmente, adquire agora contornos reais de titeragem, como um espetáculo de marionetes. O termo contracenar é, então, revestido de significações adversas. A relação que se estabelece entre ator e diretor adquire tons de jogo sadomasoquista, onde um condiciona o outro inteiramente à dependencia de sua condução em cena, dentre uma sucessão proposital de tarefas complexas. O diretor assemelha-se então a um ventriloquist, um showman solista que cria situações e diálogos consigo mesmo através de falas reproduzidas pelo ator tornado boneco. A platéia ocupa um lugar equivalente de objeto a serviço dos acontecimentos, em seu entregue voyagerismo entre humores perversos, situações oníricas e comandos contraditórios. O jogo dramaturgico com o real se presentifica a partir da constatação dos lugares de poder estabelecidos para o diretor, platéia e ator convidado. A criação e exploração destas relações humanas perversas, verdadeiras, absolutas, de uma a crua proximidade com a vida, lhe imprime parentescos conceituais com a performanceart.

Através do mote circence do show de hipnose, e deste uso dramaturgico da vulnerabilidade humana desprovido de afeto ou representação teatral, o espetáculo oferece a platéia um nível de 'diversão humorística' semelhante a do entretenimento de massa. Como um tratado artístico-político sobre o manuseio utilitário das emoções humanas, e sobre os mecanismos de massificação que conduzem as heterogeneidades à lógica do produto serial.

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